Na minha família, existe um jeito
especial de cada um se dirigir a mim. Em casa, não tenho apelido. Sou Cristina.
Nasci como retrato físico fiel do meu pai, que tinha a cor da pele semelhante.
Na família paterna, Titia Fransquinha gostava de me chamar de Nêga. Tia Netinha
ainda chama. Acho ótimo. Sou mesmo. Meu padrinho João de Deus, antes de
responder ao meu pedido de bênção, dizia: “Fala, Negona!” Sim, com aquele mesmo
vozeirão que cantava tão bem a Ave Maria, de Charles Gounod.
Ainda do lado dos Moura, Costa,
Félix, Quirino, alguns primos mais chegados me chamam de Nêga. Lamare me chama
de Nêga ou Cris. Afrânio me chama de Cris ou Preta. Lígia me chama de Jiraiya,
assim como a chamo também, lembrando o herói japonês ninja, cheio de efeitos
especiais, que nasceu com a missão de honrar o nome do clã. E assim a gente se
diverte, pois ninguém é de ferro.
Na família materna, do aconchego
Oliveira, Lima, Ramos, tem Nêga também. Titia Nina me chamava, na infância, de
alguns apelidos. Dia desses, eu e ela lembramos disso e rimos muito. Fulustreca
era o mais falado, mais pela junção engraçada de sílabas e sonoridade do que
pelo teor semântico. Na verdade, ela queria consertar minha célebre
desorganização com os brinquedos. Se eu demorasse para tomar banho ou me
arrumar, ganhava o nome de uma figura conhecida na cidade de Conceição, no Vale
do Piancó. A moça, que não posso mencionar o nome, muito menos o sobrenome, é estranha,
um tanto desmantelada.
Na escola, ganhei alguns apelidos.
Tia Carmelita ainda me chama de Minha Preta ou Vaninha, este em referência ao
meu primeiro nome, Ivânia. Quando representei Chiquinha, do seriado Chaves,
muitos colegas passaram a me chamar pelo nome da personagem. Ali foi meu
primeiro fã-clube de brincadeira.
Cila Carneiro, sogra do meu irmão
Christiano, foi quem inventou o nome Titia Cris e ensinou a minhas queridas sobrinhas,
Marina e Camila. Foi instantâneo. Sou a Titia Cris delas, com muito amor. No
meio radiofônico cajazeirense, os colegas Arnaldo Lima, Ivanildo Dunga e Petson
Santos me chamam de Mourinha. Josival Pereira, de Cristininha. Gutemberg
Cardoso, de Nêga, Moura ou Mourinha. O amigo Jackson Ricarte gosta de me chamar
de Nêga, Preta ou Crioula. Os amigos Débia Souza e João Braz gostam de me chamar
de Nêga ou Cris. O amigo Pepé Pires me presenteia com algumas alcunhas
literárias, mas prefere Cris.
Nas terras do Sudeste, meu ex-chefe
Rogério Medeiros começou a me chamar de Paraíba ou Paraibinha. Como ele já
rodou esse Brasil inteiro fazendo fotojornalismo e conviveu com diferentes
gerações e sotaques, proibia-se de sentir preconceito. Tratava a coisa de forma
carinhosa. E ai de quem mexesse com a filha adotiva nordestina dele.
No centro religioso que frequento,
sou Tia Cris, para as crianças. Para combinar, alguns adultos também me chamam assim.
É o caso de Rodrigues Leal e de César Esquianti. Outros fazem graça, como Daniel
Hoisel e Fábio Souza, que gostam de me chamar de Cri Cri. Alguns me chamam de
Paraíba ou Cajazeiras. O amigo Max Félix é de um Félix do interior de Minas
Gerais, mas me chama de Prima. Devolvo o codinome. Bom dia, Primo. Combinado.
Poucos amigos me chamam de Tina. O
capixaba Fabrício de Paula, cujo apelido é Pingo, é um deles. Um amigo mineiro
querido, que já se foi, Fabiano Gonzaga, gostava de me chamar de Dona Cris. Poucas
pessoas me chamam somente de Moura, assim como o amigo, professor e orientador acadêmico
Carlos Vinícius Costa de Mendonça, conterrâneo, de João Pessoa. Fico feliz com
todos os tratamentos. Continuo querendo ser eu mesma, mais amiga e mais
paciente, no meio de toda essa gente boa.
Adaptado do Freepik
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