segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Ratos de jornal

 



    Ser rata de jornal foi uma honra. Aprendi muito com o factual, com a batida do cotidiano, a escrever o que eu via e ouvia na realidade. Comecei a compreender até onde o ser humano é capaz, tanto em prodígios quanto atrocidades. Os ratos, uma das gírias do mundo jornalístico, são os que saem com a vassoura, no lixo, no fechar das portas, com a coluna precisando de afago e os pés arrastando o dever cumprido. São os que produzem as matérias de última hora, as mais quentes, para fechar mesmo o barraco.

    Meu trabalho atual com revisão e assessoria e aula, além do estudo, não deixa espaço para essas ratices. Mas, sinto saudades boas desse aprendizado, que levo para a vida toda e quero compartilhar nesta crônica. Alguns sobreviventes ainda estão por lá, em alguma fenda do navio, incomodando muita gente. Um tipo de gente que não suporta ver suas imperfeições reveladas.

    Os episódios da rua, antes de se transformarem em textos, são contados com detalhes numa redação. Quase obrigatório. Chegou, contou. A turma escuta, com atenção. Silêncio total. Aí, comenta. Prevê. Julga. Prende. Demite. Solta. Elege. Expulsa. Chora. Comemora. Só ali, nos bastidores. Nem que seja num punhado de cinco ouvintes.        

    Redação é um espaço pequeno para tantas informações que saltam ao mesmo tempo. A convivência é quase diária. As lacunas são os dias de folga alternados. Não existe normalidade para sábado, domingo, feriado e família. Existe administração de horários. As faces se cansam, às vezes. O estresse é constante: cada cabeça com seu grau. Remédio para combater: piada. Música. Comida. Salgadinhos. Bala. Chiclete. Café. Barris e barris de café. Chá. Contêineres de paciência. Risadas sem fim.    

    Todos ganham apelidos. Um aperreia o outro com carinho, senão estraga. Os temas são os de sempre: a cor da pele, o peso, o bairro onde mora, o time do coração, a religião, a cidade onde nasceu. Gracejo com o que for possível. Com o corte ou a pintura do cabelo, com a roupa, com o bloco de anotações, com a caneta, com os óculos, com as unhas.

    Se é casado, se é solteiro, se é divorciado, se levou um fora, se anda a pé ou de ônibus, se come PF ou pede marmita, se vai ao self-service ou ao pastel com caldo de cana. Se compra fiado. Se anda de táxi. Se foi ao show. Se frequenta os Alcoólicos Anônimos. Se foi cantado pelo entrevistado, se foi agredido pelo entrevistado, se o entrevistado-candidato pediu voto. Uma máquina de perguntas.

    Gente, que escola boa. Os tímidos sofrem. Os bem chatos não duram. Os sonsos fingem que não entendem. O propósito do editor, o time único: cada integrante com sua tarefa; e, como soldado em missão, só sossegar quando cumprir todos os itens, à risca. Como o roedor escondido nas bordas das caixas empilhadas, saindo somente expulso, com o cansaço escrito na testa, dizendo graças a Deus por mais um dia, dando tchau ao pessoal da limpeza. Até amanhã. Até. 







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quinta-feira, 8 de julho de 2021

Hora de pintar

 


    Uma das melhores ordens que eu cumpria na minha infância e assim perpetua, eu comigo mesma, é a que a professora dizia: hora de pintar. As portas do paraíso se abriam: meu estojo com lápis de cores. O caderno de desenho me olhando, pedindo para ser preenchido com alguma coisa, algum tracinho de mim.

    Outra ordem se fazia chegar aos meus ouvidos como uma hipnose. Era o tema do dia. E algo mágico porque era sempre surpresa. Que bom. Não precisávamos saber mesmo, naquela alturinha da vida, o que era planejamento de aula, temas perpendiculares, temas tangenciais, questões multidisciplinares, atividades paralelas, bibliografias. Nossa preocupação urgente, e muito urgente, era soltar a imaginação. Naquele momento, estávamos fazendo uma atividade.

    Com o tema lançado no ar, começávamos. Fazíamos gato e sapato, mas tudo em discrição, sem bagunça. Tudo no papel. Trocávamos ideias, eu e outros artistas mirins da pequena galeria, na primeira sala à direita. Lembro de sempre cuidar do material de trabalho. Importante. Apesar da caracterização lúdica, infantil e divertida, era um tipo de labor porque eu queria que o produto saísse belo, redondo, caprichado. Isso não parecia qualidade. Muitas vezes, era uma pincelada de sofrimento.    

    Desde esse tempo, compreendo que cada cor apresenta uma linguagem. Pinto, colo, repinto, costuro, reinvento. Escrevo. Reescrevo. Estudo. Reestudo. Leio. Releio. As pinturas são um misto de inspiração e experimentação. Toda tela conta com um quê de motivo, uma fagulha de começo, uma certeza de aprendizagem. Estou feliz porque minha amiga Wandneia Magdalon adquiriu a tela Amor de Maria. Emocionante como as pessoas descrevem o que sentem quando olham a imagem. Cada um sente de um modelo, de um tom, de um movimento. Isso é divino. Mais feliz ainda porque tenho outras encomendas. Cada dono com sua fina explicação para a futura aquisição. 

    A amiga baiana Silvana Mota quer o símbolo da ioga para colocar na porta da clínica de terapias ayurvédicas; Professor Celso, meu vizinho, quer um gato alaranjado para dar de presente à filha; Seu Juarez Neves, meu amigo alfaiate, peça rara na cidade, quer uma paisagem para relembrar a infância na roça; o leitor cajazeirense João Damasco Braga quer uma raposa, para lembrar seu time do coração na Rainha da Borborema. Todos os pedidos com aplicadas justificativas; cada intenção com seu tamanho, objetivo, método. Todos terão um pedaço da minha essência em suas casas. Quanta honra. Hora de pintar. Sim. Agora.     

 








domingo, 30 de maio de 2021

Fontes ricas e silenciosas

 



 

    Cemitérios são excelentes locais para estudarmos História. São fontes de pesquisa constantes, pois recebem, quase todos os dias, moradores permanentes de seus túmulos. Não quero aqui estabelecer uma relação gótica com meu querido leitor. Nem quero incentivar lembranças dolorosas. É, sim, natural lembrarmos. Mas é tão natural também saber que todos iremos, um dia, morar por ali. Não há quem escape. Não estou pensando no meu dia nem quero que chegue logo. Na realidade, não tenho um pingo de moral para saber em qual dia será, como será, por que será. Isso é a chave do mistério que ronda todos nós.

    O que quero pensar é a riqueza de detalhes de um local, às vezes tão menosprezado pelas autoridades. Às vezes tão causador de temor à população que crê em aparições ou assombrações. Digo com certeza: o temor, se existir, é de quem está com os olhos bem abertos e as maldades pulsando. São espertos e muito espertos aqueles que passam no local, não para rezar ou visitar. Os vândalos são aqueles que destroem por satisfação. Herdaram a palavra do povo bárbaro de raiz germânica, que estraçalhou parte da Península Ibérica, no século V. Em muitas situações, aprontam para protestar e nem roubam: somente vandalizam. Sentem prazer em destruir. Talvez uma rasteira demonstração de força e audácia. Talvez não saibam que ali não é apenas um reduto de silêncio eterno dos moradores. É um centro forte de dados para pesquisas, as mais diversas.

    Podemos encontrar muitos exemplos, auxiliados pelas datas dos personagens que habitam aquelas construções. Podemos investigar em que época se construíram determinadas lápides; quais eram os materiais utilizados em certos períodos; de que forma são dispostas as fotografias dos falecidos; de que forma é a iluminação noturna; por que foram reservados pontos ecumênicos ou capelas; quais as famílias que exibem seus túmulos mais requintados; quais são as flores ou plantas que enfeitam os locais. Uma infinidade de temas. Lembrando, ainda, que é possível averiguar em que época e bairro foram construídos esses cemitérios e como era a cidade naquele momento. Temos mais um caso em que a História se irmana com outras áreas: Sociologia, Filosofia, Geografia. Veja que riqueza.

    Quanto mais o poder público se distancia da vigilância a esses locais, menos teremos dados para pesquisar. Menos teremos o respeito como item indispensável a qualquer cidadão. Menos os mais fiéis e devotos terão lugares para simples rezas ou solenes visitações. Não são raras as notícias de vandalismo. Não são raras as notícias de estragos ao patrimônio de qualquer natureza. Não nos restringimos às pequenas, médias ou grandes cidades ou metrópoles. Vândalo é vândalo em qualquer praça. Estão aí alguns causos que conhecemos ou ouvimos falar. Se é para ter medo, não sei. Mas, se houver, sim: dos vivos.   






Adaptado do Freepik



Meus apelidos




    Na minha família, existe um jeito especial de cada um se dirigir a mim. Em casa, não tenho apelido. Sou Cristina. Nasci como retrato físico fiel do meu pai, que tinha a cor da pele semelhante. Na família paterna, Titia Fransquinha gostava de me chamar de Nêga. Tia Netinha ainda chama. Acho ótimo. Sou mesmo. Meu padrinho João de Deus, antes de responder ao meu pedido de bênção, dizia: “Fala, Negona!” Sim, com aquele mesmo vozeirão que cantava tão bem a Ave Maria, de Charles Gounod.

    Ainda do lado dos Moura, Costa, Félix, Quirino, alguns primos mais chegados me chamam de Nêga. Lamare me chama de Nêga ou Cris. Afrânio me chama de Cris ou Preta. Lígia me chama de Jiraiya, assim como a chamo também, lembrando o herói japonês ninja, cheio de efeitos especiais, que nasceu com a missão de honrar o nome do clã. E assim a gente se diverte, pois ninguém é de ferro.

    Na família materna, do aconchego Oliveira, Lima, Ramos, tem Nêga também. Titia Nina me chamava, na infância, de alguns apelidos. Dia desses, eu e ela lembramos disso e rimos muito. Fulustreca era o mais falado, mais pela junção engraçada de sílabas e sonoridade do que pelo teor semântico. Na verdade, ela queria consertar minha célebre desorganização com os brinquedos. Se eu demorasse para tomar banho ou me arrumar, ganhava o nome de uma figura conhecida na cidade de Conceição, no Vale do Piancó. A moça, que não posso mencionar o nome, muito menos o sobrenome, é estranha, um tanto desmantelada.       

    Na escola, ganhei alguns apelidos. Tia Carmelita ainda me chama de Minha Preta ou Vaninha, este em referência ao meu primeiro nome, Ivânia. Quando representei Chiquinha, do seriado Chaves, muitos colegas passaram a me chamar pelo nome da personagem. Ali foi meu primeiro fã-clube de brincadeira.

    Cila Carneiro, sogra do meu irmão Christiano, foi quem inventou o nome Titia Cris e ensinou a minhas queridas sobrinhas, Marina e Camila. Foi instantâneo. Sou a Titia Cris delas, com muito amor. No meio radiofônico cajazeirense, os colegas Arnaldo Lima, Ivanildo Dunga e Petson Santos me chamam de Mourinha. Josival Pereira, de Cristininha. Gutemberg Cardoso, de Nêga, Moura ou Mourinha. O amigo Jackson Ricarte gosta de me chamar de Nêga, Preta ou Crioula. Os amigos Débia Souza e João Braz gostam de me chamar de Nêga ou Cris. O amigo Pepé Pires me presenteia com algumas alcunhas literárias, mas prefere Cris.

    Nas terras do Sudeste, meu ex-chefe Rogério Medeiros começou a me chamar de Paraíba ou Paraibinha. Como ele já rodou esse Brasil inteiro fazendo fotojornalismo e conviveu com diferentes gerações e sotaques, proibia-se de sentir preconceito. Tratava a coisa de forma carinhosa. E ai de quem mexesse com a filha adotiva nordestina dele.

    No centro religioso que frequento, sou Tia Cris, para as crianças. Para combinar, alguns adultos também me chamam assim. É o caso de Rodrigues Leal e de César Esquianti. Outros fazem graça, como Daniel Hoisel e Fábio Souza, que gostam de me chamar de Cri Cri. Alguns me chamam de Paraíba ou Cajazeiras. O amigo Max Félix é de um Félix do interior de Minas Gerais, mas me chama de Prima. Devolvo o codinome. Bom dia, Primo. Combinado.

    Poucos amigos me chamam de Tina. O capixaba Fabrício de Paula, cujo apelido é Pingo, é um deles. Um amigo mineiro querido, que já se foi, Fabiano Gonzaga, gostava de me chamar de Dona Cris. Poucas pessoas me chamam somente de Moura, assim como o amigo, professor e orientador acadêmico Carlos Vinícius Costa de Mendonça, conterrâneo, de João Pessoa. Fico feliz com todos os tratamentos. Continuo querendo ser eu mesma, mais amiga e mais paciente, no meio de toda essa gente boa.  





Adaptado do Freepik





 

domingo, 2 de maio de 2021

Conversa comprida

 


 

Há alguns tipos de conversa: a amigável, a brincalhona, a doutrinadora, a sorrateira, a sedutora. São tantos tipos, que nem cabem aqui nesta crônica de poucas linhas. A mais pegajosa de todas é a comprida. Pega, gruda, nodoa; se demorar mais, absorve. Uma conversa comprida é aquela que não é longa, em espaço e tempo. Para o bom nordestino, esse termo é associado a uma conversa enfadonha, que às vezes até deturpa o fator inicial, isto é, desvia o mote maior da prosa.

Como é isso, vou tentar explicar. É uma conversa até perigosa. Uma conversa que vai colando com outros temas, que sequer estavam planejados pelo falante que iniciou o assunto principal. O receptor, em vez de assimilar o sentido, quer bloquear o que está ouvindo e negar o que está entendendo.

Que conversa comprida: falamos de forma mental, sem querer diminuir o outro. Mas, parece algo tão bruto, que já chegamos à conclusão, antes mesmo da tentativa de finalização. Tenho medo de administrar, eu mesma, com minha voz e meus pensamentos, e vice-versa, uma conversa assim, tão enjoada. Não tenho o direito de chatear o outro com o comprimento das minhas definições.

O bom vendedor é aquele que jamais ousa executar uma conversa comprida. Se fizer qualquer ato parecido, perde a venda, perde o cliente, perde a vez, perde a comissão, perde o prumo. Deixei o feirante conversando de maneira insossa e comprida consigo mesmo. Perdeu a freguesa. Quero o produto, não quero o versículo.

Sacerdotes de religiões diversas, se enxugam o discurso, promovem o verdadeiro contato com suas doutrinas. Caso contrário, o ouvinte se sente culpado, por ser ainda tão imperfeito, coitado; e a tendência será o desligamento progressivo. Médicos entram nessa singela lista do meu mundo literário: se o aconselhamento é técnico demais, portanto comprido, de dar voltas no quarteirão, o paciente triplica a causa emocional da doença; o ouvinte se sente um grão de areia, por não saber o que são aqueles termos científicos.   

Políticos eleitos, em suas tribunas: muitos com conversas tão compridas e desnecessárias; muitos com a exibição na ponta da língua. De cambalhota em cambalhota, derrapam e perdem seus fiéis. Fantasmas gargalham com os sanduíches de vaidades dançando nos salões. Professores, mestres da sala de aula, donos do quadro ou da tela: perdem pontos no jogo a cada conversa comprida; o conteúdo salta do décimo andar ou se esconde, como um mamífero subterrâneo.

Quanto mais comprida a conversa, menos atenção do público, seja de qual idade for. A síntese pode ser um truque, um dom, um aliado, uma peripécia, mas um método que precisa acontecer. É outro trabalho. Se sintético ao extremo, não adere à consciência. Vou até concluir por aqui, com medo de alugar o doce olhar do meu leitor. Com medo da minha légua tirana. Com medo da estrada de curvas e penhascos. Com medo de encompridar as coisas.    





Editada do Freepik


segunda-feira, 19 de abril de 2021

Bonito

 










        Venha, amiga chuva. Venha mesmo. Venha me dizer por que estamos merecendo a sua nobreza. Venha dizer por que dizemos, em idioma nordestino, que o céu está bonito. O céu: bonito para chover. O céu, o tempo, o clima, acordes de beleza no ar. Ei. Olha. Olha. Desenhos, miragens, infinitas orações.

       Lembremos que os tufos acinzentados, os que se formam com as nuvens, dizem algo da quantidade que vem. Mas há sempre um resultado com linhas não muito exatas. Mesmo anunciando o modo chuvoso em tons e sobretons de um azul mais sério e fechado, outros elementos contribuem para a performance. Lá, bem longe, colados na linha do horizonte, clarões adornam o número, sempre em contato permanente com o comando da natureza. Os raios cortam a plataforma que esconde estrelas e outros astros, mas se dissolvem nos nossos olhares. Não me garantem que encontraram, do lado de lá, outras luzes.

    Bonito, que é bonito, venha. Se está bonito para chover, estará bonito durante e depois. Olha: relampeando, relampeando, relampeando. Olha, moça. Ali. Vem do lado nascente. Bonito demais. Olha, moço, os passarinhos já estão procurando abrigo. Naquela tarde, pinceladas de laranja, às vezes, juntaram-se aos blocos de cinza. E é tão bonito que não entendemos, de imediato, como se faz essa pintura, que muda, que amedronta ou surpreende. Venha, neblina. Venha anunciar que vai chover.

    Cada fenda de lajedo agradece essa superdose de alívio. Cada gota se multiplica em bilhões de minúsculos pingos, respingos, pensamentos. Cada gotícula enche de esperança tantos jardins e melodias, tantos discursos e promessas, tantas gargalhadas e fantasias. Venha, pois está bonito. Se trovejar, não nos incomodamos. É o som da primeira canção, é a percussão divinizada, é o ritmo das certezas. Olha. Olha, como é a natureza: avisa, alerta, promove, enriquece, acalma.

        Do preparo, do bonito, viajamos. Mergulhamos nesse fenômeno que enche de brilho nossa horta, que vira assunto na feira, que transforma o cardápio, que aproxima os desejos. Não é culpa desse esplendor o entupimento das galerias, o deslizamento das barreiras, a confusão no trânsito. Se é esplendoroso o presente, é abençoado. Sim. Mas, olha. Olha. Vamos pensar somente no que está sendo enviado, em forma de água, em parceria com o vento. Vem ali. Vem caindo em síntese ou expansão; visita as expectativas; aborda os mais céticos; tempera a conversa. Olha. Olha. Olha, minha gente, está bonito. Como está bonito. Olha. Parece que vem daqui a um minuto.   

 


Imagem: Freepik


Parada das Miudezas

    A hipnose era certa. A Parada das Miudezas, no meu regimento, seria sempre uma visita obrigatória. Para uma criança de cinco anos de ida...