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Minha primeira experiência radiofônica foi amadora e ao vivo. Eu costumava visitar a rádio Patamuté FM com minha prima, Dulcineide Quirino, pra bater papo com Beta, a tia dela. Beta, Betânia, muito querida com seus olhos esverdeados, era recepcionista. Naquelas idas e vindas, eu ficava vidrada no que o fenômeno rádio já traduzia pra mim, desde que me entendia por gente, brincando nas calçadas da Rua Coronel Justino Bezerra. O rádio se instalou no coração.
Passou-se um tempo. Num hiato de
trancamento de curso na UFPB, resolvi pedir um espaço ao diretor de programação
da FM, Wilson Furtado. Pedi pra fazer um teste. Passei. Não era somente testar
a voz e a desinibição ao microfone, compreendendo que muitos me ouviam onde a
onda alcançasse. Tive que aprender a mexer nos controles. Zé Nilton teve muita
paciência pra me ensinar. Mexer nos botões não me interessava muito. Minha
intenção, na verdade, era que a rádio voltasse a apresentar um programa que eu
gostava: o Rock 94, nas tardes de sábado, das 15 às 17 horas. Rocha, agente da
Caixa Econômica Federal de Cajazeiras, brilhantemente apresentava. Ali ele era
o Rocha Rochedo, vocalista também da banda Apocalypse. Peça rara, o locutor e
cantor havia sido transferido pra uma agência bancária em João Pessoa. As
tardes de sábado não eram as mesmas.
Meu objetivo não era imitar Rocha
nem mesmo conseguir um emprego. Nem de longe. Na minha doidice dos meus dezenove
anos, eu queria mesmo era viver o rádio, respirar um pouco do rádio. Sentir o
clima. Queria apresentar um programa, curtir o rock e fazer com que o povo
ouvinte curtisse a minha seleção musical. Com auxílio do amigo Nonato Saraiva,
outro roqueiro sem fim, criei umas notas sobre o mundo do rock, falando um
pouco de cantores, bandas e álbuns. Por influência do meu irmão Christiano
Moura, a lista continha pérolas dos anos 70 e 80. Alguma coisa dos 90. Também
arriscava uns 60. Era mais um reviver do que atualizar. Não tocava nada muito
pesado, embora até gostasse de algumas coisas. Gostava sempre das mais
conhecidas. Os invejosos poderiam dizer que eram as mais manjadas. Eu botava um
pop no meio e dava certo.
Como era bom pedir que
aumentassem o volume com os internacionais Dire Straits, Pink Floyd, The
Smiths, Beatles ou os nacionais Paralamas do Sucesso, Ultraje a Rigor, Legião
Urbana, Barão Vermelho, Titãs. E os cantores e cantoras do gênero daqui ou do
estrangeiro: Lulu Santos, Rita Lee, Raul Seixas, Billy Idol, Prince, Cindy
Lauper. Uau. Como é bom relembrar. Nessa época, conheci Conrado, que já fazia
rádio e depois mudou o nome pra Kaliel Conrado. Viramos bons amigos até
hoje.
Todos os sábados, um ouvinte ia
lá na porta do estúdio e pedia pra eu tocar qualquer uma do Guns N’ Roses. Ele
era muito fã da banda e às vezes se vestia com camisetas que exibiam fotos do
vocalista, Axl Rose. Trabalhava numa loja de calçados. Menino atencioso e
educado. Estava claro que o interesse dele não era em mim, mas na música. Tudo
bem. Aí eu fazia a vontade dele e tocava uma mais leve da banda californiana.
Meu sábado estava, desse jeito,
musical. Fiquei devendo tanta coisa: Jethro Tull, Nazareth, Yes, The Ventures.
Também Mutantes e outros tantos que tocam e compõem rock no nosso Brasil alado
e misturado: Zé Geraldo ou Zé Ramalho. Chico Science ainda era uma grande
novidade. Estava mais do que provado que eu não dava conta desse painel de
personagens.
Depois de alguns meses
apresentando também O Som da Noite, um conjunto de músicas românticas, das 20
às 22 horas, voltei pra capital e fui terminar meu curso. Levei a vida mais a
sério. Aqui vale um asterisco pra dizer que, à noite, o programa tocava até o
que eu não queria muito, como José Augusto, Fábio Júnior, Sandra de Sá, Rosana,
Fafá de Belém ou Roupa Nova. Tudo pelo sagrado direito do ouvinte. Lidar com
essa democracia não foi tão rápido na minha cabeça. Mas, era ao vivo. Vivo,
vivíssimo.
Eu tinha que fazer algo que até
hoje tenho que aprender: ser ágil. Fazia, na minha velocidade, uma rápida
seleção, já que não havia qualquer coisa gravada. Aí eu colocava umas melodias
roqueiras no meio. Umas guitarras bem puxadas, do tipo baladas de arrebentar a
memória afetiva. Scorpions, U 2, A-ha, INXS e um George Michael pra extrapolar
o toque de romantismo. E pra lascar o cano mesmo, uma marcante do Pholhas.
Almair Furtado e Léo Silva me mostraram onde os LPs ficavam e quais eram os
mais pedidos. Parecia fácil. Mas, era ao vivo. Eu que me virasse.
Ao voltar pra Cajazeiras, em
1999, experimentei outro vivo, o jornalismo. Vivo e dinâmico, outro ritmo, outra
pegada, outra Cristina. Aí a história mudou. Mudou completamente. Entrei na
turma da Rádio Alto Piranhas AM. Comecei a reviver a amplitude modulada que
conheci na infância: aquele barulho, aquela sintonia, aquelas canções, aquelas
vinhetas. Estava tudo ali, bem perto.
Fazer jornalismo, ao vivo, no
rádio, era outro compasso. Eu não atuava mais como disque-jóquei e quase
repórter cultural. Era a vez de experimentar, de manhã, o Microfone Aberto, com
José Anchieta e Fernando Caldeira, na apresentação, e Alberto Dias ou Francisco
José, na parte operacional. José Antônio de Albuquerque, que na infância eu via
na Escola Nossa Senhora do Carmo como o pai de Letícia, passou a ser meu chefe,
meu colega, meu eterno professor.
O período em que fiquei no
programa matutino, e em algumas participações como repórter no vespertino Rádio
Vivo, foi um aprendizado e tanto. Até pista no programa esportivo, fui. Arnaldo
Lima, Ivanildo Dunga e Edmundo Amaro botaram a maior pilha. Aguentei uma única
vez, no Estádio Higino Pires Ferreira, num jogo amistoso do Atlético com
convidados. Pista tem que ter pique. Vi que era tão cansativo, mas tão
cansativo, que fugi. Do mesmo jeito que fugi de transmissões noturnas de
carnavais.
O rádio, ao vivo, ensina. Não tem
emenda. É na hora. Chapa quente. Pensar pra falar: ligeiro. Uma boa estratégia
pra trabalhar o autocontrole, o domínio de si mesmo. Ao vivo parece mais
contagiante, mais parceiro, mais próximo.
Tenho saudade desse ser vivo, que
entra nas casas, nos estabelecimentos comerciais, nos automóveis, e conquista
as pessoas. Quem sabe, um dia, eu volte a me alimentar dessa energia boa
radiofônica. Não exatamente do factual. O factual é necessário, mas deixo esse
prato temperado para os meus colegas mais experientes. Os mais afoitos gostam
também. Sei que, se um dia tiver que ser, será vivo, ao vivo. No couro cru. Combinado?
Combinado.
O rádio é, e sempre será o meio mais popular de se fazer a comunicação entre povos distintos.
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