A pessoa que emprega o gerundismo
está convicta de que inventou a roda. É a pessoa que se diz letrada, que caminha
num passo diferente. É aquela que teve a chance de frequentar a escola, ao
menos ter acesso aos livros didáticos, receber lições de regras e exceções da
língua. Há exemplos desse tipo que, dependendo do estágio social em que se
encontra, usa o gerúndio como se fosse um mérito da fala. Sim. Em geral, é utilizado
ou mal utilizado na fala mesmo. O falante cria a imposição de uma norma que
nunca existiu, pra carimbar um status, pra dizer que fala muito bem, que é
excepcional, que arrebenta na oratória.
Vamos relembrar o gerúndio: um
verbo inacabado. Melhor: forma nominal que apresenta uma continuidade. Algo que
se processa na frase, não se sabe em que momento termina nem se sabe quando
começou. Sem modo ou tempo específicos. Precisa de um amigo verbo auxiliar. Mas
só um mesmo.
O equivocado falador do gerundismo
bota pra quebrar. Diz assim: “Vou estar passando...” Bastaria: “Vou passar...”
Pronto. Sem mistério. Mais econômico. Mas a pessoa gerundista usa o verbo ir e
estar a rodo, de boca bem cheia, introduzindo o assunto. São os dois mais
utilizados nesse tipo de confusão, como se fosse uma dupla inseparável, um par
de jarros, o oxigênio e o gás carbônico da fotossíntese. A pessoa usa também
plurais pra florear a oração, pra enfeitar ainda mais a pabulagem.
Sinceramente, diante disso, sou
mais o falar qualquer do povo, da ponta da rua, da feira livre, da conversa sem
compromisso, da extinção inconsciente da gramatiquice. O importante é entender
e se fazer entender e conviver harmonicamente. Não existe falar errado. Conheço
casos e mais casos de gente digna que fala como pode, utiliza a concordância
que mais convier para o bom andamento da comunicação. Gente que teve que
trabalhar muito cedo pra sobreviver. Gente que não teve a oportunidade de
conhecer uma sala de aula, uma escola, um alguém pra ensinar.
Mas, caro leitor, fique certo de
que tudo o que escrevi agora pode não servir daqui a vinte anos. O gerundismo
pode virar regra ou uma convenção pacífica. Aquele jeitinho manhoso: já que
todos estão indo, ah, então, vamos. Talvez dentro do balaio das leis que depois
se desmancham como balas de coco: é fácil colocar um adendo, um parágrafo, um
arabesco. É aquele puxadinho na construção.
Valeu, Cris. Concordo em gênero, número e grau. Vou tomar cuidado para não ser "gerundista".
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