Quem nunca foi
a um forró na zona rural não sabe o que já perdeu. Ainda há tempo para saborear
aquele vento da roça, aquele vento cheiroso, com um pedaço de esperança, mirando
um céu estrelado que jamais vai se parecer com o mundo urbano. Jamais. Forró com
esse selo também é feito de urbanoides, assim como eu. Estou na lista dos que
realmente gostam da roça, têm um pezinho na terra molhada ou na terra pedindo
chuva para o plantio.
As pessoas que
se dirigem ao forró no sítio, podem ter certeza, são bem recebidas. Não falta
animação. Não falta par para a dança. O calor é logo descartado, tamanha a
ventilação natural do lugar. Claro que existem os participantes não muito
intencionados com bons pensamentos e atitudes. Uma dose ou outra de álcool e a
confusão se agiganta. Os anfitriões são preparados, chamam seguranças
particulares e pedem a presença da polícia. Muitas vezes, nem é preciso tanto
alarde. Quem estiver perto logo aparta a briga, expulsa o confuseiro ou bate um
papo rápido para explicar que ali não cabe aquele tipo de insinuação.
O forró no
sítio, todos sabemos, é a origem do chamado forró-pé-de-serra, um gênero do
forró que enlaça multidões em inúmeras casas de shows e faz a fama de tantos artistas.
Por mais consagrado que seja o grupo, no entanto, é naquela roça que o artista
se acha, é naquela palhoça que ele se identifica com o próprio gênero. Cansei
de ver bandas nascidas e criadas no seio urbano com essa propaganda de
pé-de-serra, mas que, no frigir dos ovos, nunca pisaram num lajedo. Tudo bem.
Vale a homenagem que o pessoal quer fazer aos pioneiros. Alguns arriscam dizer
que o avô ou bisavô ou tetravô nasceu no sítio tal e qual.
No forrobodó
da zona rural, o autêntico, a banda respira o que há de mais original. Basta um
acorde da sanfona, uma batida da zabumba e o tilintar do triângulo para
diagnosticar como será a festa. Se o sanfoneiro for bom cantor também, está
garantido o ingresso. Nem sempre isso acontece. E isso não significa que o
evento seja ruim. O povo se engalfinha e nem escuta a letra.
Contamos com a
sorte, nós, brasileiros, de admirar um excelente tocador, Luiz Gonzaga. Sanfoneiro,
na mais fina essência, de olhos fechados. Também excelente cantor. Com uma voz
especial, encorpada, por vezes aveludada, fazia o que bem queria para emocionar
e alegrar quem estivesse no salão. Como artista não morre, nunca, o salão
sempre estará aberto. O Rei do Baião trafega com tranquilidade por outros
gêneros associados ao forró. Sua obra é prova disso. Gonzagão é o símbolo do
pé-de-serra, que ganha balanço de sobra com xaxado, maracatu, xote, coco,
marcha, maxixe, tango. E os aboios, orações musicadas. Um universo de
personagens. Para quem quiser rezar, de forma mais concentrada, é só fechar os
olhos e ouvir a lindíssima Ave Maria Sertaneja.
Falo do nosso
querido Gonzaga, mas são muitos e muitos os representantes desse pé-de-serra
abençoado. Cada um aciona um causo, uma história, algo que tenha me marcado nas
minhas andanças. É comum lembrar os anúncios dos forrós nos sítios, nas rádios
AM. Sem essa propaganda, a ciranda não está tão completa. É preciso avisar,
chamar o povo, causar rebuliço. Bora, minha gente. E começa logo que escurece.
Às dezoito horas, pode chegar.