Janelas/20 x 29,5 cm/Colagem - papel sobre papel/Abril - 2016
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Caro
Cleudimar, bom dia. Seja em qual horário for, é bom dia, é dia de saber que a
vida continua. Esta crônica-carta veio com certo atraso. Mas, em se tratando da
palavra escrita não-factual, que é meu caso aqui e agora, é sempre tempo de
escrever, é sempre tempo de abandonar um pouco o calendário e o relógio para
manter algo palpável e durável para daqui a quantos anos forem possíveis.
Cleudimar
Ferreira publicou um texto no seu blog Cajazeiras de Amor. O artigo também foi
publicado no blog Coisas de Cajazeiras, do meu irmão Christiano Moura. Isso foi
em março de 2016. Como em História, para o pesquisador, o que estiver dentro do
período de cem anos é considerado bastante jovem, estou no lucro.
Tomei um susto
logo no título: A arte de Cristina Moura promete. Fiquei em dúvida se essa
promessa seria concretizada logo. Fiquei me perguntando, exaustivamente, se a
promessa seria para mim. Se a promessa seria para a sociedade cajazeirense. Se
a promessa seria para o mundo. De todo jeito, continuo achando que a arte salva
e salva em qualquer dimensão. Fiz alguma coisa para terapia, outra para vender,
outra para presentear, outra para me realizar. Salvei-me em todos os casos.
Desde criança
que compactuo com todas as esferas da arte. No universo infantil, perpassavam a
cor, a mistura das cores, o desenho, a colagem, a ligação das palavras com as
ilustrações, os diferentes suportes. Minha mãe, Ivanícia, de maneira sábia,
organizada e libriana, guardou muitas dessas minhas incursões artísticas de
meninota. Certa vez, e bem recente, fiz uma triagem dolorosa. Editar é sempre
um trabalho complicado, ainda mais de coisas minhas. Mas, nesse exercício,
selecionei uns mimos, uns trabalhos de escola, umas coisinhas fofas. Em breve,
postarei no meu blog e avisarei por aqui também e em outros meios.
Uma das fotos
postadas com o seu artigo, Cleudimar, é uma colagem que se chama Férias. Eu,
realmente, tinha acabado de entrar de férias e decidi reunir vários pedaços de
papel: revistas e folhetos de propaganda de lojas de eletrodomésticos ou
supermercados. Selecionei somente os trechos lisos, sem fotos ou textos, e fui
colando, colando. O suporte foi papel couchê. Foi uma terapia tão deliciosa e
intensiva, que terminei o quadro e já comecei outro. Um dia quero fazer uma
exposição somente com as colagens. Depois fui desenvolvendo outro tipo:
colagens, mas deixando espaços em branco no quadro. É outra proposta. Cada
espaço, espécie de silêncio, também exerce um poder. É linguagem.
Quanto aos
trabalhos de pintura, opto sempre por acrílica. Fácil de dissolver em água. O
solvente da tinta a óleo, geralmente óleo de linhaça, é muito irritante ao meu
nariz e ao meu estômago. Lindíssimos os trabalhos a óleo, mas meu rumo, por
enquanto, é a acrílica. O pontilhismo surgiu por acaso. Virou uma admiração
constante. Sempre estou me inspirando nos mestres impressionistas Georges
Seurat e Claude Monet e outros mais contemporâneos que também merecem todo o
meu apreço.
A arte da
aquarela, porém, ainda não chegou pra ficar na minha prática. Ainda não
consegui o ponto exato da dosagem da água com a tinta no papel. Mas, é um
desejo. Um dia vou executar com mais frequência. A única obra que considero
apresentável é Cajazeira. Dei de presente a Mãinha. Está lá na parede, na Rua
Souza Assis, 43, para quem quiser ver.
Cleudimar,
você está certo. Procuro combater a visão ocre por fatalidade do tempo. Meu
amigo João Braz me ensinou muito e continua, do seu modo, ensinando. Com ele
aprendi a enxergar a arte nas pequenas coisas. A Literatura e a História me
presenteiam com esse olhar também, analisando obras e autores, repensando fatos
e lugares. Mas a obra de arte pode transcender a tudo isso. É a força da
criação. São meus filhos espalhados por aí.
Parabéns pelo belo texto produzido. Ele traduz justamente a devoção de uma artista que vislumbra a importância em si, e dessa, como objeto melhoria da condição humana. A intimidade com o fazer artístico é um dos atributos de muitos, que só como você tem. Algo restrito aos que reconhecem a arte como meio de expressão e de sentimentos.
ResponderExcluirGrata, amigo. Arte é respiração: salva. Abraço.
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