Há alguns tipos de conversa: a
amigável, a brincalhona, a doutrinadora, a sorrateira, a sedutora. São tantos
tipos, que nem cabem aqui nesta crônica de poucas linhas. A mais pegajosa de
todas é a comprida. Pega, gruda, nodoa; se demorar mais, absorve. Uma conversa
comprida é aquela que não é longa, em espaço e tempo. Para o bom nordestino,
esse termo é associado a uma conversa enfadonha, que às vezes até deturpa o
fator inicial, isto é, desvia o mote maior da prosa.
Como é isso, vou tentar explicar.
É uma conversa até perigosa. Uma conversa que vai colando com outros temas, que
sequer estavam planejados pelo falante que iniciou o assunto principal. O receptor,
em vez de assimilar o sentido, quer bloquear o que está ouvindo e negar o que
está entendendo.
Que conversa comprida: falamos de
forma mental, sem querer diminuir o outro. Mas, parece algo tão bruto, que já
chegamos à conclusão, antes mesmo da tentativa de finalização. Tenho medo de
administrar, eu mesma, com minha voz e meus pensamentos, e vice-versa, uma
conversa assim, tão enjoada. Não tenho o direito de chatear o outro com o
comprimento das minhas definições.
O bom vendedor é aquele que
jamais ousa executar uma conversa comprida. Se fizer qualquer ato parecido,
perde a venda, perde o cliente, perde a vez, perde a comissão, perde o prumo. Deixei
o feirante conversando de maneira insossa e comprida consigo mesmo. Perdeu a
freguesa. Quero o produto, não quero o versículo.
Sacerdotes de religiões diversas,
se enxugam o discurso, promovem o verdadeiro contato com suas doutrinas. Caso
contrário, o ouvinte se sente culpado, por ser ainda tão imperfeito, coitado; e
a tendência será o desligamento progressivo. Médicos entram nessa singela lista
do meu mundo literário: se o aconselhamento é técnico demais, portanto
comprido, de dar voltas no quarteirão, o paciente triplica a causa emocional da
doença; o ouvinte se sente um grão de areia, por não saber o que são aqueles
termos científicos.
Políticos eleitos, em suas
tribunas: muitos com conversas tão compridas e desnecessárias; muitos com a
exibição na ponta da língua. De cambalhota em cambalhota, derrapam e perdem
seus fiéis. Fantasmas gargalham com os sanduíches de vaidades dançando nos
salões. Professores, mestres da sala de aula, donos do quadro ou da tela:
perdem pontos no jogo a cada conversa comprida; o conteúdo salta do décimo
andar ou se esconde, como um mamífero subterrâneo.
Quanto mais comprida a conversa,
menos atenção do público, seja de qual idade for. A síntese pode ser um truque,
um dom, um aliado, uma peripécia, mas um método que precisa acontecer. É outro
trabalho. Se sintético ao extremo, não adere à consciência. Vou até concluir
por aqui, com medo de alugar o doce olhar do meu leitor. Com medo da minha
légua tirana. Com medo da estrada de curvas e penhascos. Com medo de encompridar
as coisas.
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