Cemitérios são excelentes locais
para estudarmos História. São fontes de pesquisa constantes, pois recebem,
quase todos os dias, moradores permanentes de seus túmulos. Não quero aqui
estabelecer uma relação gótica com meu querido leitor. Nem quero incentivar
lembranças dolorosas. É, sim, natural lembrarmos. Mas é tão natural também
saber que todos iremos, um dia, morar por ali. Não há quem escape. Não estou
pensando no meu dia nem quero que chegue logo. Na realidade, não tenho um pingo
de moral para saber em qual dia será, como será, por que será. Isso é a chave
do mistério que ronda todos nós.
O que quero pensar é a riqueza de
detalhes de um local, às vezes tão menosprezado pelas autoridades. Às vezes tão
causador de temor à população que crê em aparições ou assombrações. Digo com
certeza: o temor, se existir, é de quem está com os olhos bem abertos e as
maldades pulsando. São espertos e muito espertos aqueles que passam no local,
não para rezar ou visitar. Os vândalos são aqueles que destroem por satisfação.
Herdaram a palavra do povo bárbaro de raiz germânica, que estraçalhou parte da
Península Ibérica, no século V. Em muitas situações, aprontam para protestar e nem
roubam: somente vandalizam. Sentem prazer em destruir. Talvez uma rasteira
demonstração de força e audácia. Talvez não saibam que ali não é apenas um
reduto de silêncio eterno dos moradores. É um centro forte de dados para
pesquisas, as mais diversas.
Podemos encontrar muitos
exemplos, auxiliados pelas datas dos personagens que habitam aquelas
construções. Podemos investigar em que época se construíram determinadas
lápides; quais eram os materiais utilizados em certos períodos; de que forma
são dispostas as fotografias dos falecidos; de que forma é a iluminação noturna;
por que foram reservados pontos ecumênicos ou capelas; quais as famílias que
exibem seus túmulos mais requintados; quais são as flores ou plantas que
enfeitam os locais. Uma infinidade de temas. Lembrando, ainda, que é possível averiguar
em que época e bairro foram construídos esses cemitérios e como era a cidade naquele
momento. Temos mais um caso em que a História se irmana com outras áreas:
Sociologia, Filosofia, Geografia. Veja que riqueza.
Quanto mais o poder público se
distancia da vigilância a esses locais, menos teremos dados para pesquisar. Menos
teremos o respeito como item indispensável a qualquer cidadão. Menos os mais
fiéis e devotos terão lugares para simples rezas ou solenes visitações. Não são
raras as notícias de vandalismo. Não são raras as notícias de estragos ao
patrimônio de qualquer natureza. Não nos restringimos às pequenas, médias ou
grandes cidades ou metrópoles. Vândalo é vândalo em qualquer praça. Estão aí
alguns causos que conhecemos ou ouvimos falar. Se é para ter medo, não sei.
Mas, se houver, sim: dos vivos.
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