
Uma das posturas mais ensinadas na
ioga, para quem está começando, é a da montanha. Segundo a origem da prática,
escrita em sânscrito, chama-se Tadasana. A pronúncia mais difundida é a tônica
na antepenúltima sílaba, tomando como base nossa leitura aportuguesada:
Tadássana. Para os mais ortodoxos, Yoga deve ser escrito assim, iniciando com
ípsilon maiúsculo, com pronúncia fechada na segunda letra. E seria uma palavra
masculina. Mas, as adaptações no nosso canteiro fazem da ioga um nome feminino,
com pronúncia aberta. Não depende de letra maiúscula para se mostrar
importante.
A postura citada, que se coloca
simples para quem inicia, trata apenas de ficar de pé. Apenas. Uma das versões
é deixar os braços estendidos ao longo do corpo e olhar para a frente. Não é
tão fácil passar alguns minutos sem se render à ansiedade ou aos barulhos
internos e externos. Com o decorrer das atividades, percebemos que a respiração
será a principal fonte da concentração, para que os pés se sintam firmes, a
coluna esteja alinhada e o pensamento flua como um rio em tempo de primavera.
Pensamento. Pensamento. Está aqui
um discreto contrariador da ioga. Se não for bem articulado, torna a postura
sofrida e o praticante irritadiço. Eu mesma já fui vítima do pensamento
atravessado, desconsiderei o ritual e vi colegas desestabilizados com o tamanho
do corpo. Na realidade, é o tamanho das próprias limitações, das desconfianças,
das dúvidas, das intolerâncias, das bombas de açúcar no sangue, dos pratos
deliciosos de costela ensopada. Tem gente que desiste logo na montanha.
Ao imaginar a elevação, penso
numa excursão diária, num grupo de desportistas, cujo líder recomenda cautela.
Vamos escalar com cuidado, diria ele. Vamos, ao menos, contemplar. Ao menos
sentir uma porção da natureza, disponibilizada para nós mesmos. Ao menos,
sentir. Ao menos, pois a montanha traz uma série de simbologias. Se o corpo estiver
ereto, firme, seguro no exercício, pensar significa não pensar. Sim. Significa não
elaborar, não se preocupar com o que a mente apresenta e deixar o ato de
respirar sintonizado com o ambiente.
A montanha ganhou tal nome na
ioga porque indica justamente o estado de firmeza, de equilíbrio, de exatidão. No
nosso lado ocidental, pensamos parecido. Não é à toa que está incorporada, na
nossa fala, a certeza de que a fé remove montanhas. Não é à toa que existe
aquela música, que fala da montanha, que nos lembra o ato de agradecer. E o
agradecimento é límpido quando compreendemos seu verdadeiro sentido. A montanha
será sempre aquele lugar alto, representativo da beleza e da imponência. Nos
meus desenhos de criança, a paisagem, para ser completa, tinha uma montanha. Um
risco no fundo da composição, combinado com outros traços, com retoques de
cores e algumas plantas. Para ficar ainda mais emocionante, percebi, no meu
mundo, que da montanha poderia surgir uma cadeia, uma cordilheira, um
conglomerado de montes, figuras naturais em pedras a serem escaladas.
É por tudo isso que a postura da
montanha é como se fosse a postura da verdade. A partir dela, percebemos como
está nossa quietude, ou seja, nossa capacidade de parar, mesmo com tanto alarme
tocando. Essa pausa é intencional e se torna complexa, à primeira vista. Quando
lembro de montanha, também lembro de uma dificuldade que pode ser vencida.
Lembro de uma suntuosidade geográfica. Um destaque. Um ser que é vivo, alto e
bem alto. Com finalidades múltiplas. Finalidades que se auxiliam. Finalidades
que nos convidam. Sim, vamos lá.
Imagem: Freepik
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