Ouvi dizer em algum lugar que não devemos esperar demais
dos outros. Por não seguir à risca esse argumento, eu acabo, às vezes, sofrendo
com reações de algumas pessoas ou me surpreendendo com lugares.
Certa vez, encontrei uma colega de infância numa agência
bancária. Estudamos pelo menos durante oito anos na mesma escola, na mesma sala.
Curtíamos as mesmas músicas, os mesmos livros, os mesmos ídolos, os mesmos gibis,
os mesmos papéis de carta.
Nossa condição social era um tanto diferente, mas nossa
formação moral e familiar continha os mesmos padrões rígidos de comportamento. Na
pré-adolescência, começamos a nos distanciar, o que era natural, devido à
mudança dela para outra cidade. Ainda não havia internet, mas poderíamos ter
trocado desenhos, cartões, bilhetes.
Eis que, no dia do reencontro, na agência, eu a vi, depois
de pelo menos seis anos. Talvez até mais. Quando meu coração se alegrava para
receber um temperado abraço, tive que me contentar com um aceno insosso e
solitário, com uma distância de dez metros. Para coroar o acontecimento, aquele
ar-condicionado gelado.
E o papo que eu esperava colocar em dia? Não aconteceu. Meu
castelinho de cartas foi desmoronando lentamente. Damas, copas, paus, espadas,
ases, valetes, reis, rainhas, angústias, trufas, pterodátilos, bolos de chocolate, ventanias,
velocípedes, ideias. Outro castelinho, o de marfim, foi acertado por mísseis
de expectativa, bombardeado com bolas de sorvete, triturado por serpentes,
coberto com caramelo e amendoim. Ainda outro castelinho, o de areia, sofreu uma
erosão repentina. O centro da Terra o engoliu.
Respirei fundo. A amizade é um tesouro tão precioso que
me pergunto também se éramos realmente merecedoras dessa honrosa tarefa ou
função fraternal. Imagino que, quando encontro os amigos velhos ou os velhos
amigos de verdade, a efusão é imediata. Podemos não ter nos visto há um mês ou
vinte anos, isso nem importa.
Amigo verdadeiro se abraça, ri, chora, canta, pula,
brinca. Amigo verdadeiro não se contenta com um aperto de mão tímido ou sorrisos
padronizados. Com os amigos, faço um show de perguntas. Sim, pois eles também
fazem comigo. Nós nos damos esse direito carinhoso de traduzir uma saudade
recíproca. É a certeza de que estamos plantando flores. Cabe, no entanto, a
cada um, o trabalho de adubo e a alegria da polinização.