Na minha frente, o mundo se abria,
vertiginoso, dizendo aos meus olhos que tudo é um mistério voador. Um cheiro alegre
e acolhedor me fez chorar pelas narinas. Era um espirro aos montes, rasgando e,
ao mesmo tempo, abraçando-me por dentro. As cores eram gradativas: mel,
coco-do-mato, algaroba.
Misturavam-se as vontades como o
açúcar n’água e, à medida que se confundiam dentro do meu imaginário, ganhavam
outros timbres alados: muçambê, erva-doce, ar-condicionado, papel novo... Eu ia
ganhando sentidos também, pacíficos e ondulados, e nem notava a diferença de um
para o outro. Certo segundo, aumentei de tamanho: acho que era de tristeza
sólida. Não sei.
“É chorar e não poder”. Olhei para as
descobertas, que eram cinco, e as estradas, que eram quatro. Um dos caminhos,
sem começo ou trilha a ser seguida, foi estendendo as mãos. Foi aí que me
assustei de curiosidade e arrepiei os dentes. Quando acordei, estava dentro de
uma espécie de saco esponjoso, pendurado numa árvore imensa. Imensa, imensa,
imensa: um desmantelo belo. Posso chamá-la até de gigante porque já era noite e
vi estrelas de muito perto, quase cegando a minha euforia. De repente, atiraram
no saco com um dardo cintilante. Caí numa superfície florida.
Ouvi, de longe, muito longe:
- Viô carpê vonde viô! Viô! Aaaaa...
– alguém de voz grave e pastosa. Dava medo.
- Viô! – respondi, sem querer. A
minha voz foi saindo em fios.
A voz do outro se transformou num
badalo, imitando um sino de mosteiro. Badalava cada vez mais forte, aumentava e
me deixava sem medidas. Sussurrei:
- Alguém aí pode responder?
Num disparo ameaçador, um clarão foi
se agarrando ao céu. Espalhava-se no ar, como uma fumaça ocre, que ganhava
minha simpatia, aos pedaços. Não acreditava nem na metade do que estava vendo.
Depois de dois anos de seca, a região inteira tomava o banho da felicidade. Foi
chuva por todos os lados.
Texto publicado no jornal Gazeta do Alto Piranhas (maio/junho/1999), Cajazeiras-PB.
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